“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa…”
A citação de Santa Teresa d’Ávila nos convida hoje a uma pausa. Uma pausa rara — quase valiosa — nesses tempos em que o mundo nos exige pressa, respostas imediatas e uma produtividade que não perdoa o cansaço. Em meio a esse turbilhão, permitimo-nos respirar fundo, repousar o pensamento e refletir, enquanto seguramos, com as duas mãos, uma xícara quente e acolhedora.
Vivemos um tempo em que a ansiedade se tornou uma companhia constante. É como um zumbido de fundo, presente em notificações que nunca param, prazos que apertam, notícias que se atropelam. Queremos tudo rápido, temos medo de ficar para trás, de não dar conta, de errar o momento. Vivemos tentando controlar o incontrolável. E é nesse cenário que os versos de Santa Teresa sussurram algo quase revolucionário: nada te perturbe, tudo passa.
Essa santa espanhola do século XVI, reformadora do Carmelo e mística profundamente conectada com o cotidiano de sua época, escreveu para mulheres enclausuradas — mas, paradoxalmente, suas palavras tocam homens e mulheres do século XXI, conectados demais e, ao mesmo tempo, desconectados de si mesmos. Ela falava de Deus como quem fala de um amigo íntimo. E sua paz interior não veio de uma vida sem dificuldades, mas da fé vivida na tempestade.
Será que ainda é possível cultivar serenidade em tempos tão apressados?
A serenidade de que falamos aqui não é uma indiferença fria ou um distanciamento artificial da vida. É uma disposição interior que brota da confiança. Confiança de que a vida tem ciclos, de que a dor não dura para sempre, de que há um chão que nos sustenta — mesmo quando tudo parece girar. Ter fé, nesse sentido, não significa acreditar que nada de ruim acontecerá.
Significa crer que mesmo no escuro, há uma luz que não se apaga.
Talvez estejamos ansiosos porque perdemos o hábito de esperar. Esperar com paciência. Esperar com sentido. Esperar como quem planta e confia que a terra vai responder. Vivemos intoxicados de urgência. E, no entanto, as melhores coisas da vida — o amadurecimento, o perdão, o reencontro, a compreensão — acontecem no tempo do café coado, e não do instantâneo.
Há um tipo de oração silenciosa que pode nascer na rotina.
Uma xícara de café preparada com calma.
Um pequeno silêncio antes de responder.
Um “não” que respeita nossos limites.
Um momento de gratidão no meio do dia.
Oração, aqui, não é necessariamente religiosidade explícita, mas presença. Conexão com algo maior — com o divino, com os outros, consigo mesmo.
A espiritualidade, nesse contexto, deixa de ser um conjunto de regras e dogmas para se tornar um jeito de viver. Um jeito mais calmo, mais confiante, mais aberto ao mistério. Claro, ainda teremos dias difíceis. Ainda seremos apressados, ansiosos, impacientes. Mas talvez — só talvez — possamos lembrar daquelas palavras simples: “nada te perturbe, nada te espante, tudo passa.“ E quem sabe, ao lembrarmos disso, possamos respirar fundo, olhar para o que temos diante de nós — um café, um momento, uma pessoa — e perceber que ali também habita o sagrado.
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Quais são os gestos ou hábitos que te ajudam a manter a serenidade em dias agitados?